Ninguém podia afirmar que ele era um perdedor. Ele tinha um emprego legal, uma namorada legal, era quase bom em tudo que fazia com destaque em uma coisa ou outra. Mas ainda assim ele estava ali, na beirada da janela pensando se morreria na queda ou só quando atingisse o chão. Nada do que tinha era forte o suficiente para prendê-lo ali e sua vontade de conhecer coisas novas era grande demais, nunca foi de dar muita satisfação a ninguém. Nunca tinha saído do país, mas sair do país é algo que qualquer um podia fazer. Realista como era sabia que nunca ia ser um astronauta, ainda assim sua vontade de descobrir algo novo o levava a observar a queda por quase uma hora já. Quem iria sentir falta dele? Quem só ia descobrir meses depois? E, mais importante, pra onde ele iria? Não acreditava na dicotomia inferno/paraíso, mas se recusava a pensar que não teria nada além. E se acabasse ali, bem, sua consciência iria cessar e não existiria arrependimento, logo era uma relação de ganho para os dois lados. Ele não acreditava em saudades, sentir falta. O que aconteceu vai sempre existir, ele queria algo novo e, no momento, o mais perto de uma nova experiência que ele tinha era aquela queda. Sentou-se no parapeito da janela e sentiu o vento, suas pernas para o lado de fora. E se caísse acidentalmente? Também se livraria da responsabilidade de tomar aquela decisão. Todos superariam, todos superam eventualmente. Toda dor é passageira e sua dor duraria o quê? 5 segundos no máximo. Pensou em segurar a respiração para se distrair durante a queda ou talvez sua vida passasse diante de seus olhos, o que seria distração o suficiente. Estava decidido, ia pular. Ficou em pé na janela, tirou os óculos e os jogou na cama. Olhou pra baixo mais uma vez e deixou seu corpo cair. Acordou no hospital duas semanas depois, sua mãe ao seu lado chorou como nunca. Ele não tinha certeza do que tinha acontecido, não se lembrava da queda, não se lembrava de chegar ao chão nem de ter alguma experiência de quase morte. A notícia se espalhou, seus amigos vieram lhe visitar, no começo todos ficavam felizes por estar vivo até começarem a questionar porque ele tinha feito aquilo, se estava com depressão, se sua vida não era boa. O que ele mais odiava no mundo era ter que se explicar e agora estava ali em uma situação onde tudo o que procuravam nele era um motivo. Ele pulou porque queria ver como era, sentir algo que ninguém nunca sentiu e o que conseguiu foi um blecaute mental, vários ossos quebrados e todos seus conhecidos o cobrando uma resposta que ele desapontadamente não tinha. Quer dizer, a não ser que aquilo ali seja o Inferno, aí sim, tudo faz sentido novamente.
Faz sentido.
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