sábado, 7 de julho de 2012
O Rei da Selva
Ele passou na frente da loja de fantasias e ficou intrigado com uma roupa de leão. Não era muito bem costurada, nem se parecia muito com um leão, mas o básico estava lá: juba e rabo. Entrou na loja, pediu pra moça embrulhar, pagou e foi pra casa. Não quis experimentar por medo do que a atendente ia pensar. Chegou em casa, colocou a roupa e ficou se admirando no espelho. Ele era o Rei da Selva. Poderoso. Perigoso. Respeitado. Transava todas as leoas, era o primeiro a comer as zebras que caçavam. Andava pela floresta e todos desviavam o olhar de medo. Sentou no sofá, ligou a tv no NatGeo que estava passando uma série sobre mistérios sobrenaturais. Passou para o Discovery Channel que explicava o funcionamento de uma daquelas máquinas com gancho que pegam ursinhos de pelúcia. Nada de leões. Pensou em ver uns documentários online mas a internet estava cortada há duas semanas por falta de pagamento. Deixou a tv ligada numa novela e foi pegar uma cerveja no congelador. Era legal observar seu rabo arrastando no chão, serpenteando entre o lixo e as roupas sujas. Era a última cerveja. Também era a última coisa que tinha em sua geladeira, junto de um embrulho de papel laminado que estava lá a tanto tempo que ele já nem o percebia mais. Pegou a cerveja, voltou pro sofá. No fim do rabo tinha uma parte felpuda que ele começou a passar levemente sobre o nariz, fazia cócegas. Não lembrava da última vez que alguém tinha feito cócegas nele. Na novela, um grupo de jovens desciam o morro rumo a uma praia deserta. Procurou o telefone pra ligar para um amigo, ver o que tinha pra fazer, mas o telefone estava longe demais do sofá. Era bem quente essa roupa de leão, e talvez estivesse começando a pinicar também. Tentou se coçar por uma abertura na parte de trás da roupa e derrubou sua cerveja, não teve força nem pra soltar um palavrão. Pensou em ligar pra sua mãe, contar que tinha comprado uma roupa de leão. Enxugou a cerveja no chão com a parte reforçada do solado da fantasia e foi até o telefone. O telefone não deu linha.
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