Esse conto é baseado no conto de um blog que é o único que tem parado minha atenção pra ler:
"O homem que vendia o amor", de Luana Costa.
Me convenceram a ir a essa palestra de auto-ajuda, me disseram que ia me fazer muito bem. Eu que depois da terceira namorada que me trocava por alguém mais rico, mais bonito ou mais interessante, tinha aberto mão desse negócio de amar, estava ali vendo sentado esperando uma palestra sobre como viver sem o amor. Pelo menos era o que o folheto que me entregaram na entrada dizia. Um amigo meu de Curitiba assistiu essa palestra há um ano e meio e diz que depois dela nunca foi tão feliz. Eu, que já conhecia todas as táticas de dialética e discursos, já estava ficando impaciente com a demora do começo. Quando apagaram as luzes, entrou esse sujeito de terno barato, sorriso no rosto, expansivo como todo palestrante imbecil de auto-ajuda. Ele se apresentou e falou que estava há não sei quantos anos sem amar. O gordo do meu lado só faltou chorar enquanto batia palmas descontroladamente com o livro do sujeito debaixo do braço. Muito bonito seria um mundo sem amor, não é? Ele começa a falar como foi difícil pra ele superar sua primeira decepção amorosa, mas que tudo tem que acontecer na sua hora. Então ele simplesmente confia no tempo. Viver sem amor, esse cara é uma piada. Acha que engana alguém. E engana. Aparentemente estão todos muito concentrados no que ele tem a dizer. O cara tem o público nas mãos, consegue arrancar suspiros e indignações na hora certa. Esse grande filho da puta frustrado. Tão perderdor quanto todos nós, ou menos, já que ele arrumou um jeito de ganhar dinheiro em cima de seu fracasso. Há quanto tempo ele não ama? Dez anos, ele não se cansa de repetir. Alguém que não ama a tanto tempo simplesmente desaprendeu a amar. Ele vive remoendo um sentimento tão distante e vazio que ele mesmo não sabe como é. Resquícios de um memória tão fraca que só fica o índice. O indício de que ali houvera em algum momento um sentimento que deixou aquela marca. Uma hora e quinze minutos e ele encerra a palestra. O caminhar vazio dele enquanto recolhe sua garrafa de água e vai para o camarim o entrega, mas pros outros setenta e poucos companheiros meus de palestra, aquele cara foi um gênio. Corações partidos em tantos pedaços e de tantas formas diferentes, que qualquer minuto de atenção, qualquer palavra de apoio, soa como um sopro de esperança. Eles não precisam passar por aquilo de novo, eles podem viver bem e sozinhos como ele. Como aquele sujeito magro e sorridente que conseguiu enganar quase todos os sujeitos desse auditório. Eu fui embora e joguei o folheto dele na primeira lixeira que passei. Pensando melhor, vou guardar esse folheto, porque conheço algumas pessoas que realmente estão precisando dessa palestra.
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