segunda-feira, 1 de abril de 2013
Cartas e poemas.
Não escrevo poemas para ninguém porque não escrevo cartas. Cartas chegam no destinatário com selo e linguagem própria. Você avisa que vai voltar que tá com saudades e conta o que aconteceu. E no clips no canto do papel você coloca uma foto sua numa paisagem bonita. O poema não, o poema é para você mas é para qualquer um, a mensagem está lá mas lá também existem dez mil outras mensagens que variam de acordo com o humor de cada pessoa que o lê. E o lirismo, e as metáforas, nada é natural. Na carta o recado está lá exatamente como é. "E todo lugar que eu olho eu lembro de você" é uma afirmação direta e pontual. Ele vai na cozinha e lembra de você, vai no banco e lembra de você, vai no açougue e lembra de você. E ele precisa, além de tudo, deixar você saber disso. No poema não, no poema a intenção do autor se perde. Assim como seu professor de literatura dizia mil coisas sobre as obras de Machado de Assis, no poema sua vontade pouco importa. No poema, o eu-lírico é o leitor. Ele precisa se ver naquelas palavras, ele precisa compartilhar aquele sentimento. A leitura da carta é passiva, você recebe a informação, você sabe dos sentimentos. A carta é o jornal, a poesia é a publicidade. Se o poema é a indireta, e a melhor forma de você informar algo a alguém é jogando isso na cara da outra pessoa, a carta resolve esse problema. Não escrevo poemas porque não quero ser mal interpretado. Não escrevo cartas porque não confio em carteiros.
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