sábado, 28 de fevereiro de 2015
Da janela do meu quarto eu vejo a Terra.
Meu pai trouxe um telescópio que não estava mais sendo usado no laboratório e instalou no meu quarto. Falou que era para eu conhecer as estrelas e para que eu fosse cientista como ele quando crescesse.
Dizem que no passado, pouco antes da gente chegar aqui, o estudo das estrelas eram bem diferente. Esses telescópios e uns satélites flutuando no espaço era tudo que nós tínhamos. Minha professora de história dizia que demorou anos para conseguirmos pousar na Lua, antigo satélite natural de onde morávamos.
A Terceira Grande Guerra causou a evasão. Não só porque praticamente destruímos tudo, mas pela corrida espacial para ver quem deixaria o planeta primeiro. E enquanto os menos favorecidos se degladiavam e se matavam em campos de batalha, cientistas recebiam financiamento absurdos dos maiores governos para desenvolver o o que mudou tudo: a viagem espacial numa velocidade maior que a da luz.
Os primeiros satélites com a tecnologia conseguiram mapear rapidamente o universo para catalogar todos os planetas com condições favoráveis para a vida. Pouco tempo depois veio a primeira missão tripulada, a primeira colônia e aos poucos as grandes nações fugiram da Terra. Isso foi há alguns séculos atrás.
Eu vivo com meu pai em um planeta muito bacana. Cheio de montanhas e fiordes. É um planeta para cientistas. Nasci aqui a partir do DNA dos meus pais. Visitei um outro planeta quando eu era mais novo, mas eu nem lembro mais. Meu pai disse que eu me diverti muito e que eu posso voltar lá quando eu era mais velho.
O interessante da viagem acima da velocidade da luz é que podemos estudar a história de maneira mais concreta. Por exemplo, da janela do meu quarto eu vejo a Terra. Mas não é a Terra de hoje, inóspita e destruída pela ganância de um sistema que pregava o acúmulo de bens e poderes. É a Terra de muitos anos atrás, cheia de animais gigantescos caminhando e vivendo pacificamente à sua maneira.
Estranho como conseguimos destruir um planeta tão rico. Hoje vivemos em colônias há anos-luz de distância uma da outra, com todo o mapeamento do universo, não conseguimos achar um planeta que resumisse tantos ecossistemas como foi a Terra.
Dependendo da angulação do telescópio consigo enxergar eras e eras de evolução, mas o nosso tempo (o tempo humano que adotamos como padrão) é muito delicado. Um pequeno desvio e a Terra desaparece em uma época pré-formação.
Gosto de estudar principalmente a época dos grandes gênios. Pessoas que analisavam e quebravam paradigmas com poucos recursos. Platão, Newton, Einstein, Hawkings, Phillips. Temos representações deles em todas as escolas, onde podemos conversar com simulacros e entender melhor como eles conseguiram enxergar tão pra frente de seu tempo.
Hoje a gente viaja mais rápido que a informação. Isso irrita um pouco. Todos os paradigmas foram quebrados, a ciência é tão banal que deixamos de lado o espanto. Nenhuma descoberta é grande o suficiente para nos assustar. No tempo que as máquinas existiam, cada novidade era um grande passo. Hoje cada ser vivo já nasce com máquinas para calcular variáveis infinitas.
Meu pai estuda uma maneira de podermos ver o futuro através de grandes espelhos nos limites do universo, mas tudo ainda é embrionário. Isso e conseguirmos nos locomover fisicamente através do tempo. São os últimos grandes passos.
E cada vez que saber de tudo isso deixa minha vida entediante, eu vou para meu quarto e observo a Terra. Onde tudo era mais simples, tudo era uma grande surpresa, onde as pessoas eram mais... interessantes.
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