É o terceiro planeta que visito essa semana. Se bem que o conceito de "dias" e "semanas" ficou na Terra há muito tempo. Tempo. Outro conceito que mudou muito desde então. Usamos o conceito convencionado, mas nós, viajantes, marcamos o tempo como forma de nos manter sãos.
Lembro quando voltei da minha primeira viagem e parecia que tudo tinha dado errado. Eu tinha literalmente viajado para o futuro e não era nada bom. Com a diferença que não tinha volta.
A cama é a Máquina do Tempo menos eficiente, mas a mais usada. Você deita, desliga o cérebro por algumas horas e acorda horas depois e na sua cabeça demorou segundos. Considerando um sono normal de 6 horas com uma percepção de tempo em que você se sente dormindo exatamente de um minuto, temos uma máquina com eficiência 1/360. Minha primeira viagem teve eficiência de 1/100000. Na prática, cada minuto fora uma semana na Terra. Fiquei dois dias e meio viajando, voltei haviam passado 70 anos. Foi surreal.
As relações hoje são bem diferentes. Nós, viajantes, não podemos nos dar ao luxo de nos apegar. Como na época das Grandes Guerras, onde quem saía não tinha a certeza de que iria voltar, hoje quem sai não tem a certeza de que haverá algo para voltar. Mas sabemos o risco e sempre começamos de novo e de novo em outro lugar.
Os dados chegam a tempo, as pessoas não. Então as pessoas terminam suas pesquisas e já recebem sua próxima missão. É um estilo de vida. Tem quem escolha viver no mesmo lugar sempre: nasce, cresce, reproduz e morre. A vida mais básica possível. Nós não temos lar. Nosso lar é nossa nave, nosso tempo é relativo. Não temos passado nem futuro porque nunca sabemos onde vamos parar e o que aconteceu pode ter sido ontem ou há milhares de anos.
Pensávamos que sem o tempo não teríamos movimento, mas quando você percebe que o tempo não é mais referência, o cérebro trava. Meu referencial não é o mesmo que o seu, o que antes era uma impressão agora é uma certeza. O tempo não passa da mesma forma de acordo com sua posição espacial, como ele poderia ser linear?
Ainda assim, em uma semana no tempo oficial do meu próprio veículo e única constante em minhas viagens, eu já estava no terceiro planeta. Anotando panoramas gerais, rochas, seres vivos, gases presentes e enviando pra Central de onde um dia eu saí.
A cada contato que faço para enviar as informações coletadas, temos uma pessoa nova me atendendo, com a anterior já aposentada. Quanto mais distante eu viajo, menos tempo dura a carreira de quem está do outro lado. É triste saber que nunca voltarei para onde eu nasci e cresci. Que aquelas pessoas provavelmente morreram há anos, que a cultura que eu vivi já foi derrubada.
Só nos resta as estações, onde encontramos outros viajantes, com ínfimas chances de encontrar alguém mais de uma vez. Lá atualizam nossas informações com as últimas descobertas e nossas naves com as últimas tecnologias, e assim continuamos nossa viagem. Sem hora marcada, sem passagem de volta. O tempo é tão individual quanto o pensamento.
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