quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Nas nuvens.
Sentado sob o Sol e acima do mundo
De camarote observando o luar
Bater de asas acalentando ao fundo
Às vezes entraria nas nuvens pra me isolar
Me cobrir de branquidão e sentir a estática
Fazer de travesseiro a umidade do ar
e manipular na mente a mudança climática
Causar chuvas num movimento brusco
Num pesadelo que só se tem no céu
Caindo eternamente em um sonho fosco
Acordar assustado em uma cama de hotel
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
O pico.
A grande verdade é que eu odiei esse ano. Todas as retrospectivas, os convites para lembrar o que de bom aconteceu em 2017 me faziam chorar imediatamente. Não consigo. Termino esse ano com um gosto gigante de fracasso na boca. Da promessa inspirada em Belchior que fiz, dizendo que esse ano eu não morreria, e agora estou aqui a sete palmos do chão escrevendo essas palavras. O estado de piloto automático que entrei nos últimos meses convive com o constante alerta de perigo. Aceitei que perdi o controle mas morro de medo de onde isso tudo pode me levar. E eu acreditei demais, talvez por isso que doeu (e ainda dói) tanto. Acreditei que esse ano seria melhor, mais calmo, com mais resultados e finalmente abrindo caminho pra grandes mudanças. Mas o destino não está aqui pra satisfazer ninguém. Ele simplesmente acontece. Frustração talvez seja o nome dessa sessão que se encerra no próximo dia 31. Frustração de ver um futuro brilhante e naturalmente lógico simplesmente escorrer das mãos. Mas a expectativa só gera decepção mesmo. É como se o pico só existisse para contrastar com a queda que se segue. E não é que decepcionei alguém, eu decepcionei a mim. Por não ser forte o suficiente, por não achar soluções, por aceitar e não agir na hora certa. Não entender que estava errado. Não enxergar como melhorar. Por não ter as respostas que as pessoas esperavam de mim. Eu falhei com tanta gente. Deixei tanta gente triste. Mas eu perdi a força e a vontade de fazer as coisas que me motivavam. Que me orgulhavam. Porque o sentimento é que é sempre em vão. Não tem louros, não tem reconhecimento, não tem impacto positivo nos outros. Minha cabeça, cada vez mais bagunçada. Tentar me entender, procurar ajuda, já é um grande passo. Mas é difícil demais. Eu vejo as pessoas de formas planas e binárias. Eu mesmo estou na quarta dimensão. Quanto mais eu me encaro, mais desesperado fico de não me entender. Geografia lovecraftiana. Eu me sinto sozinho mas sei que preciso conviver com isso. Eu me sinto carente mas sei que não é no outro que tenho que encontrar isso. Eu sei tudo o que eu não posso fazer, mas não consigo encontrar em lugar nenhum o que diabos eu devo fazer. Qual é o próximo passo? O que as pessoas fazem para se sentir bem? "O que Jesus fez enquanto esteve morto, porque meu problema tá durando mais do que um fim de semana? E vamos combinar um sinal então se não tiver mais solução, porque assim eu sei que é você é que acabou, então eu nem vou tentar." É impossível acreditar em qualquer coisa na decisão a situação. Karma é a pior delas. "Coisas boas acontecem com pessoas boas". Só posso afirmar que coisas acontecem com pessoas. Não existe justiça divina ou dos homens. É só a aleatoriedade das relações sociais, todo mundo jogando seus próprios dados. E você machuca alguém, mesmo com a melhor das intenções, aí você se isola e se machuca. A felicidade é só um instante entre a última vez que alguém se machucou e a próxima. E eu não aguento mais carregar a culpa que eu mesmo me coloquei. Não aguento mais machucar as pessoas. Mas eu sei que sozinho não consigo nada. Mal consigo passar a noite. São as contradições que tentam achar seu espaço na minha cabeça, sendo atacadas e punidas pela minha própria mente. Isso não é aceitável. Mas nada é meu por direito. Ninguém deve obrigação a mim. Cada um está buscando sua própria plenitude da maneira que acredita ser justa. Eu sou só uma frase, um parágrafo apenas. Quando muito um capítulo na vida das pessoas. Muitas vezes nada memorável. Me convenci da minha própria grandeza muito cedo, acreditei que era capaz de coisas relevantes. Mas esqueci da perspectiva e do outro. Pra alguns eu não sou nada, pra outros eu só sou um qualquer. Eu acreditei que era indispensável para alguns e só tomei no cu. Indispensável só si mesmo. Todo o resto é descartável, retornável, substituível. Eu só queria um propósito, algo que pareça minimamente que vai dar certo. Estar a deriva não tem sido melhor do que estar naufragado na praia. Eu só quero que esse ano acabe logo pra que, dentro desse ritual bobo de passagem de data, minha cabeça se dê a oportunidade de começar de novo. De fazer minhas coisas, de querer algo novamente e de não me sentir tão abandonado e sem propósito. Não aguento mais. Eu só quero acordar desse pesadelo.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Não é planeta.
Os primeiros passos foram mais tranquilos e fáceis de estabelecer, mas as condições ainda estavam distante das ideais. Alcançar esse novo (e talvez último) ponto do sistema era crucial para seguir para a nova terra. A Terra Prometida, como os antigos religiosos acreditavam e convencionou-se chamar, primeiro por escárnio dos não-crentes, depois por necessidade em se apoiar em algo. E os tripulantes responsáveis por explorar essa nova região já sabiam que era um ponto sem retorno. Se não pelas dificuldades seria pelo tempo necessário de um ponto a outro. Uma viagem sem volta, como outros antes deles enfrentaram e sobreviveram. Como outros não tiveram a mesma sorte. Mas com o sentimento de seguir em frente, sempre. É o que cada um precisa, é o que a sociedade precisa.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Labirinto.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Cicatrizes.
Na cicatriz, no desequilíbrio do defeito
O grão da foto, o leve desfoque
O sorriso torto, o abraço que
não encaixa direito.
Traz conforto ver no outro
Tudo que me culpa ver em mim
Sintomas escondidos sob a luz do camarim
Máscara que se usa todo dia no trabalho
Mas que no quarto abre guarda
Guarda sua insegurança, dança do meu lado
O frágil em você é o que precisa ser conservado.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Nas montanhas.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
Ressaca.
O gosto da ressaca, a cabeça dói, a mente fraca.
A água falta, desidrata.
A noite passada se esconde em mistério.
O critério, cada vez menor, reflete em arrependimentos.
O pensamento a mil, confuso, febril.
O corpo retorce, abraço e aceito.
Porque o que foi feito acaba tendo pouco efeito num panorama geral.
E se o corpo passa mal, que sirva de aprendizado
De que o passado volta pra assombrar no dia seguinte
Mas outros dias seguem.
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
Última balada.
seu sorriso e risada preenchiam meu quarto.
No meu violão uma balada triste
que você acompanhava num rima livre.
As roupas jogadas como quem não tem pressa.
a fotografia pegava o detalhe.
Numa noite de domingo de um dia chuvoso,
seu sorriso nervoso dizia o que eu não queria ouvir.
A meia-luz destacava a meia-lua no chão,
a lua cheia iluminava o colchão.
"Uma última balada?", eu pedi,
mas perdi, você já tinha ido.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Deriva.
O vazio é o que mais incomoda. O buraco na rotina. Um membro-fantasma que dói só para chamar atenção para sua ausência. A dependência física e psicológica é um quebra-cabeça incompleto que você precisa aceitar que está faltando peças. Estão perdidas debaixo de tapetes ou dentro do sofá. A conversa casual que fazia o ponteiro rodar não pode ser substituída porque nenhuma outra conversa é casual. Tudo tem objetivos e motivações. E o tempo é o que não passa, porque só ele mesmo que tem que passar. Livros, filmes, séries, festas, trabalhos, amigos, jogos. Tudo em câmera lenta como se me puxasse para fora do palco e dissesse "você não está pronto". E nunca vou estar, a gente só se acostuma e toma coragem pra continuar apesar dos medos, apesar do despreparo, apesar do vazio. É o castelos de cartas que desmorona quase no fim. Não só desmorona, pega fogo e de repente não há mais cartas. O fogo queima sua mão. Você respira fundo e pensa se quer mesmo recomeçar. Você viu seu objetivo tão próximo e já não sabe se compensa passar por tudo de novo para chegar em um lugar que não era aonde você queria. Tem dia que bate mais pesado mesmo. O silêncio fala mais alto que o fone de ouvido. O eco reverbera as palavras não ditas, os fatos não feitos. Como dói. A lágrima cai fácil e inesperada, tudo é gatilho. Um tiro doeria menos. O consolo é saber que sobreviveu até aqui, de momentos piores, tudo isso vai passar. Não hoje, nem amanhã, mas vai. O vazio se preenche com outras coisas, a ausência de torna menos presente e menos notada. Enquanto isso o barco flutua a deriva, torcendo pra que o vento não bata nem que nada o afunde. O sol queima e o sal desidrata. Mas a terra chega pra todo náufrago.
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
Relatividade.
que o tempo começou a passar diferente,
mas sei que de repente
as horas não eram mais as mesmas.
E mesmo que eu ocupe a cabeça,
peça aos céus que algo aconteça,
a hora está mais devagar.
Divago sobre o motivo,
sobrevivo cada minuto,
mas a hora seguinte demora a chegar.
No meu peito, mora a angústica,
a perspectiva vive perdida,
porque a dor mais doída
é a espera de algo que não vai voltar.
Preencho as lacunas com linhas e colunas,
tentando ocupar o tempo que sobra.
Mas as sobras, migalhas de um outro momento,
ganham a atenção
como um ponto preto em uma superfícia branca.
A gota de sangue estancada segura a sangria a cada dia.
E quando os olhos fecham finalmente
em pesadelos consecutivos,
É breve o descanso pela frente
É longo o tempo de mais um dia.
terça-feira, 3 de outubro de 2017
Nostalgia.
Crescendo na cidade, nunca entendi muito bem aquele carinho que as pessoas tem pelo interior do país e as comidas da roça e mesmo os melhores aspectos da minha infância eram muito bem quistos como memória mas não entendidos como saudades ou vontade de voltar para uma época X ou Y.
Mas foi recentemente que a Nostalgia ganhou um aspecto diferente da minha vida, me mostrou lados que eu não conhecia e que me fez entender melhor o sentimento geral das pessoas. Foi quando, em crise, um instinto me fez procurar um lugar seguro e me transportou para a infância. Por uns minutos novamente eu tinha 6/7 anos. Sem nenhuma preocupação a não ser conseguir dormir, e foi o que eu fiz. Horas acordado em pesadelo lúcido resolvidos nos primeiros acordes de uma canção de ninar ou conto de fadas.
Sem ter consciência do teletransporte temporal que minha mente é capaz, ativei sem querer e entendi novamente esse meu super poder. A crise era outra, o momento era difícil e, por outros motivos, revi uma história que gostava muito há uns anos atrás. De repente, era eu novamente com vinte e poucos anos, sem as preocupações e problemas atuais, revivendo um breve momento de tranquilidade. Aquilo me sugou da neblina que vem cobrindo meus dias e me mostrou uma saída. Ainda que distante, é importante saber que ela existe.
A nostalgia então, mais que um mero capricho de pessoas que insistem em não envelhecer, ela é um lugar de conforto. Um porto seguro em um mundo desconhecido e cada vez mais perigoso. As mudanças não se mostraram boas até aqui, então encontrar um rosto conhecido nas telas, prateleiras e vestuário nos leva, mesmo que inconscientemente, para um momento onde as coisas eram mais simples.
Claro que o passado também tem suas armadilhas e os momentos felizes chegam como socos no estômago de quem não poderá repetí-los, mas se apegar ao que te fez bem é um começo para quem está buscando novas memórias para o futuro.
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Inspiração.
obra prima de um
mestre renascentista
inspirado pelo
mais belo dia
na tela e tinta a óleo
Olho pra você
e me emociono
como em um sonho
que no outro dia
não vou esquecer
é você que me tira o sono
abandono o dia
pra dormir com você
puxa o cobertor
como que sente frio
mas o arrepio
mesmo vem da nuca
sua respiração profunda
batimento cardíaco
calma, que sou cardíaco
meu coração não guenta
arrebenta
pulsando sangue pelo corpo
torpe torto vivo ou morto
motivo pra viver.
terça-feira, 18 de julho de 2017
Trança.
Mais sobre mim do que sobre ela
A unha na pele marcada
Cicatriz da noite passada
Perco o fôlego e a voz
Deixei de ser eu, passei a ser nós
Meu corpo pulsa, o seu treme
A vida navega, eu sou seu leme
Tormenta e calmaria em quinze minutos
O tempo para quando estamos juntos
O coração à deriva encontra o porto
Mar morto revive, flutua em conforto
Ofegante abraço finaliza a dança
Rosto colado, pernas em trança
Um último suspiro confirma o fim
Foi bom pra você? Foi lindo pra mim.
quarta-feira, 28 de junho de 2017
Mil graus.
Pouco tempo que ainda resta.
Galo velho, sofredor.
E de novo, do alto da cerca, ele canta.
quarta-feira, 21 de junho de 2017
O bobo não leva a culpa.
Um frágil cordeiro, pobre animal.
quinta-feira, 8 de junho de 2017
Um novo dia.
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Conversas vazias.
Dá-se um jeito de sobreviver.
quarta-feira, 26 de abril de 2017
Vizinhos.
Ambos corpos em ação
quarta-feira, 19 de abril de 2017
Transtorno.
Incerto apenas é o ritmo da batida do coração.
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Dissociação.
Um outro jeito de murchar.
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Atrás do morro distante.
Atrás do morro distante
quarta-feira, 29 de março de 2017
Viagem no tempo.
Mas não apaga o que marcou pra sempre o coração.
segunda-feira, 27 de março de 2017
Leve atraso.
quarta-feira, 22 de março de 2017
Caleidoscópio 3.
coagulado o fluido, posso ir embora enfim.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Luta.
sexta-feira, 10 de março de 2017
Para Michel.
ser o nosso poeto.