Um dos principais desafios para esse ano foi entender qual era enfim meu conceito de família e como eu me encaixava nisso tudo. A referência das propagandas de margarina estavam longes demais da minha experiência pessoal, mas longe de mim ser enganado pela mentira da publicidade, logo eu maior defensor da verdade parcial que paga minha contas, mas mesmo o que eu observava em minha volta ainda estava longe do que eu tinha vivido. A distância era a palavra-chave, distância majoritariamente geográfica e distância emocional quando analisada mais de perto. Como se tivesse nascido em um lugar que não estava preparado para me receber (e sendo hoje mais ou menos da idade que meus pais me tiveram entendo que nós adultos sabemos muito menos sobre o mundo do que minha própria versão infantil imaginava). A ausência de certos comportamentos e exemplos que eu julgava necessários me fez procurar em outros lugares valores e modelos que se adequavam melhor ao que eu entendia como caminho. E a própria contraposição ao que me era apresentado surgiu como um guia moral e ético muito forte durante minha formação. Disso tudo me encontrei como família na relação com meus amigos, o mais próximo de confiança e inspiração que eu achei. Mas adentrando os labirintos de minha cabeça (um que eu tateei em busca de uma saída em algum texto do começo do ano) encontrei que não estava muito certo se esse caminho era o que eu precisava. E agora, com a cabeça pronta para encontrar padrões e as respostas que procuro, vim mais uma vez passar as festividades de fim de ano perto deles que são minha família de sangue e batismo cristão, mais até do que a outra família de sangue e batismo cristão da qual a distância é ainda mais marcada. E, com o olhar mais atento pude perceber os padrões familiares (com perdão do trocadilho) em toda e qualquer família. Os primeiros dias foram surpreendentemente tranquilos, sem grandes embates ou emoções, mas estando aqui um pouco mais que o habitual, consegui presenciar a personalidade de cada um escapar em pequenos momentos dentro da grande celebração das boas festas que vivemos. Momentos bons e ruins, embates e carinhosos que mostram os humanos que existem em nós, e, dessa vez, mostram também as relações de pais, filhos, irmãos, cunhados e tudo o que o Manual da Propaganda de Margarina diz para mostrar ou esconder. E pude então reconhecer uma família, minha família, mesmo que eu mesmo como expectador consciente do processo tenha escolhido não entrar em embates políticos ou pequenos dilemas. Uma família da qual faço parte e sou muito bem vindo, principalmente quando em pequenas doses como mediador ou incentivador. Uma curva na rotina de uma família que, como todas as outras, se ama mas está cansada de si. Um catalisador de momentos diferentes, um apaziguador de ânimos e um alívio de tensão. Meu papel é estar distante o suficiente para não se desgastarem de mim e comigo, mas próximo o suficiente para manter-me presente. A distância geográfica cai como uma luva em uma mão desgastada, mas hoje entendo o que tenho. Uma família, só mais uma. Com seus desvios de caráter e pequenos prazeres, com sua cobrança e retorno desproporcional. Cada um fazendo sua parte para buscar um pouco de significado em uma vida sem guia, apoiando-se no grupo que o acaso nos ligou. E eu, hoje, me entendo melhor parte disso, pois entendo melhor o que é "isso" do que faço parte. E, honestamente, é bom me sentir parte de algo.
sábado, 29 de dezembro de 2018
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
Bom garoto.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Sentir.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
Porta.
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
Livro aberto.
Como cartão de visita que me apresenta
À primeira vista me visto
Ciente das vantagens e do risco
Toco os discos que me tocam
Vejo filmes que inspiram
Mostro o caminho e ondem moram
Os que duvidaram e os que riram
Falo sobre o que eu amo
E amo o que me dá embalo
Sorrio pra quem está aberto
Me abro quando eu não me calo
Meu livro está sempre disponível
Pra quem se interessar em folheá-lo
O medo do toque é visível
Mas o abraço me abre num estalo
Um passo de cada vez.
Você foi muito corajoso, sabe? De agir como agiu. Sua firmeza diante de perder tudo foi invejável, e eu sei que você perdeu tudo. Mas quando empurram a gente, de pouco adianta olhar para trás, melhor aproveitar o impulso. E do tropeço você fez caminhada, e da caminhada você se salvou. Pensar em você foi novo mas fez total diferença. A gente demora a entender nossos limites e você, sem saber direito os seus, aceitou o desafio de tatear até a saída. Mesmo quando o impacto pareceu forte demais, sua cabeça guiou você para a porta que o levou em lugares que você nem imaginava. Labirintos e corredores que se revelam quanto mais você avança e que, mesmo quando não chegam onde você espera, ainda passam a segurança de estar seguindo em frente. E você seguiu. Passos lentos e incertos, mas usando a gravidade ao seu favor. Aprender a estar sozinho foi uma vitória, assim como reaprender a estar com o outro. E, como em tudo sua história, você continuou fazendo o que fez sentido e o que era capaz. Não houveram portas erradas, mesmo que às vezes elas nos levassem a outros lugares. Aceitar outros de você, que não condizem com a imagem que você mesmo montou, também não vai ser fácil. O personagem não atende mais a demanda, chegou a hora de checar a máscara e descobrir o quanto dela tem seu rosto. Os tropeços serão outros, e você vai sobreviver sem traumas. Então, confie em mim, segue em frente. Você tem muito a aprender no caminho. O peito aberto, de ferida, também deixa entrar muita coisa. Ela cicatriza e as marcas nem são feias. Entegue-se quando se sentir seguro e deixe as coisas irem quando não sentir. O barco flutua mas a praia está próxima. Então aproveite o balançar do mar e o teto de estrelas para fechar os olhos e limpar a cabeça. Eu não sei o que vem a partir daqui, mas sei que chegamos, então relaxe. O segredo é seguir em frente, um passo de cada vez.
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
Beijos são tão engraçados.
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
As vezes que eu morri.
Aqui.
Porque quando o destino não importa
Muito menos importa o espaço
O trajeto a gente tateia,
Piso firme na areia
Em uma pista torta e desgastada
Que leva onde não se espera nada
Tenho em mim um mundo que não me cabe
Saber o que eu sou e onde está
Mas quando aqui não me completa
É porque posso estar em qualquer lugar
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
Túnel.
Tento tatear a parede fora do meu alcance
Cada passo incerto me leva pra mais perto
Mas tropeço e caio em mais um bueiro aberto
Levantar gasta a energia que não tenho mais
Em um esforço gigante de não voltar atrás
Novas barreiras cobram que eu me reinvente
Mas a única certeza é que ainda tenho muito pela frente.
terça-feira, 30 de outubro de 2018
Caos.
Ele andava na rua cabisbaixo, os últimos dias haviam sido pesados. O frio que sentia era amenizado pelas fachadas em chamas das lojas do centro. Seu passo lento destoava do clima de animosidade em sua volta. Pessoas corriam na direção contrária, carregando parte de seus pertences em uma mão e seus filhos em outra. Lenços cobriam o rosto um pouco para proteger da fumaça e um pouco para esconder suas identidades. Nem os eventuais esbarrões em meio ao caos o tirava de sua imersão. Ele não escolheu estar ali, muito menos escolheu a situação. Ele sabia onde tinha que ir mas não sabia direito o que fazer quando chegasse lá. Carros de polícia cortam ao seu lado a toda velocidade, a sirene abafada pelos gritos há alguns quarteirões. Alheio a tudo ele continuava andando a passos lentos. Uma moça, alguns anos mais nova que ele o para e pergunta se ele precisa de ajuda, ele demora alguns segundos para entender a situação mas diz que não, que estava bem. Ela tenta convencê-lo a acompanhá-la, apontando que aquela direção era perigosa, mas ele sorri sem graça e agradece. Ela se afasta buscando outras pessoas que estariam mais dispostas a serem ajudadas. Ele vira na esquina escura que tantas memórias viveu nos últimos anos, mas agora ela estava coberta de lixo e vidros quebrados. Ele para em frente a um dos prédios mais antigos e toca o interfone. Ele insiste um pouco até que uma voz rouca atende:
- Quem é?
- Sou eu, Lu. Acho que precisamos conversar.
- Pelo amor de Deus, Roberto. Vai pra casa, vai pra um lugar seguro.
- É que eu eu queria... Me deixa subir.
O barulho da porta se abrindo é um alívio no coração dele. Ele sobe as escadas que ele achou que nunca voltaria e chega em frente ao 4B a tempo de ouvir as trancas serem abertas e ela olhar pra ele com a mesma incredulidade de quando se viram pela primeira vez.
- Você está maluco? O que você está fazendo aqui?
- Eu não consegui mais ficar em casa.
- E você vem pra cá? Já não basta...
- Me perdoa.
- Cansei da suas desculpas! Olha a situação que você me coloca.
- Eu vou embora, eu não devia ter vindo.
- Não devia mesmo. Você teve sorte de chegar aqui vivo. Agora espera aí que vou preparar um café.
Ele senta no sofá surrado e sente-se em tranquilo pela primeira vez em meses.
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
Pedra.
em nada se compara ao de mover montanhas
Mas tamanha força emprega
Que há de se reconhecer a façanha
Pois se o todo pouco move
Pra quem da pedra conta
Muito ganha e se comove
Com o movimento da ponta
E se o caminho libera
Ou se vira matéria-prima
Já ajuda quem espera
Um dia chegar lá em cima
sexta-feira, 19 de outubro de 2018
Caleidoscópio 4.
O barulho do trovão ensurdece como cega o raio
Caio sem forças e forço a porta, que corta minha mão
O arco-íris colore com sadismo o piso da sala
A mala aberta sobre a cama, a bota ainda suja de lama
De viagens que nunca serão feitas
O vento chama meu próprio nome e ecoa
As dores me fazem perder sentido, cores inundam as vistas
Visitas chegam, chamam na entrada
Calei-me, meu rosto reparte em mil
Calei dos que não me achavam soma
A porta abre forçada, a cena choca na entrada
Chuva limpa o piso
Espalha o sangue em cor luz
A cena seduz os olhos de um sentimento sem tradução
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
Recorte.
quarta-feira, 3 de outubro de 2018
Eco.
domingo, 30 de setembro de 2018
Flutuar.
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Canto-mudo.
terça-feira, 25 de setembro de 2018
Tristeza
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Madrugada.
O vento evita que o cheiro de fumaça se espalhe pelo apartamento pequeno no centro da cidade.
Ela imagina outros insones ao observar janelas iluminadas, e devaneia se estudam ou dormem na frente da TV. No quarto dela só o isqueiro ilumina seu rosto, a cada dez ou quinze minutos num ritual sem fé.
Ela se esforça pra lembrar o sonho que ela sonhava, em que caçava cervos em um chalé nas montanhas. Sonhava se um dia sairia da vida urbana, deixando tudo para trás para viver no mato. Sem regras de vestimenta, sem cobranças de prazo. Sem expectativas geradas por sorrisos e abraços. Decide que largaria enfim o cigarro, como se se livrar da poluição a desse liberdade pra respirar.
4 da manhã o maço acaba, e com ela, seus hábitos. Escova o dente pra não acordar com gosto de cigarro. Pensa que queria sonhar agora com uma viagem de carro. Cabelo solto, som ligado. Só ela, a estrada e seu passado.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
Soneto insone.
Esperando atrás da porta pra me pegar de surpresa
E se eu tento disfarçar o que eu sinto por dentro
Ela me destrói como um predador destrói sua presa
Tristeza como lágrima que insiste em não cair
Para crescer em angústia me digerindo aos poucos
Sorriso que disfarça o que tem dentro de mim
Impacto que deixa marcas e dói mais que um soco
O braço estica mas não alcança nada
O pé pisa mas não encontra o chão
O pulmão infla quando o ar acaba
Você segura mas não encontra a mão
E seu grito o travesseiro abafa
O tempo bate mas não o coração
terça-feira, 21 de agosto de 2018
Um dia.
E tudo que está lá dentro fica pra trás
Tudo o que você foi e o que você fez
Guardados em um lugar que não te pertence mais
Um dia você deixa de se sentir em casa
E percebe que nunca mais vai se sentir assim
A gente cresce e falta espaço pras nossas asas
Cria raízes mas se sente preso no jardim
Um dia o vazio no coração
Fica maior do que o vazio da mudança
Roupas e livros em caixas de papelão
Sem ouvir música não tem como continuar a dança
Um dia você se pergunta se deve olhar novamente
Pra guardar uma imagem daquilo pra sempre
E quando olha, não reconhece o que sente
Se é alívio de ir embora ou medo de seguir em frente
quinta-feira, 26 de julho de 2018
Sereia.
Sou eu te guiando corredeira abaixo?
Irresponsavelmente te conduzindo pro abismo
De onde vamos cair juntos e sabe-se lá como voltar
Só porque a correnteza nos leva em uma viagem fácil
Sou eu que não nado contra a corrente
Ou te empurro para terra?
Sabendo que eu mesmo não estarei de pé no final da jornada
Por que não largar sua mão e aceitar meu destino
De barco firme e seguro lá no fundo do oceano?
Atraio a sereia para a terra e me realizo em suas realizações
Mesmo sabendo que quem não vai conseguir respirar debaixo d'água sou eu.
quarta-feira, 18 de julho de 2018
Amor-próprio.
quarta-feira, 11 de julho de 2018
Ilumina*.
Como se eu pudesse desligar seu amor em uma máquinha fria
Não me alimente seus restos
Não sou um vira-lata em sua cama em busca de afeto
Não ondule,
sele meu destino, marinha
Me iluda que me procura
e seja minha isca, seja minha
Não seja o tom que não consigo
Ou o caso que de tanto contar ficou antigo
Não seja a mão na minha garganta que me asfixia
Se é minha amiga porque você não quer ser minha família?
Então, se formar uma
Não me assuma
Seja minha isca, seja minha
Seja minha calmaria
Você entende o que eu digo? (me contradiga)
Você me traz luz mas não me ilumina
Você não é minha (então me diz quem eu sou?)
(Tudo queima)
Por fora sinto sua boca fria
(Esteja aqui)
Você me traz luz mas não me ilumina
Você não é minha
Então, me engana que me ama
e seja minha isca, seja minha
*Livre tradução de "Not The Sun", por Brand New.
Morada.
Se sua casa já não é lar
Deixe eu me adaptar ao seu jeito
E faz de mim o seu lugar
Posso ser o porto-seguro
Se você está perdido no mar
A parada no meio-caminho
de alguém sem pressa de chegar
E se precisar partir, leve parte de mim
De suprimento para uma viagem extensa
Porque é bobagem pensar em fim
Do que é maior do que a gente pensa
E se precisa voltar, não precisa temer nada
Se sua casa não for seu lar,
meu peito ainda será morada.
quinta-feira, 5 de julho de 2018
Fazer por.
e não na pessoa
Porque o ato termina em si
E a pessoa continua lá
Frustrando expectativas
Com reciprocidade não vinda
Daí cabe diferenciar fazer algo por
Do que fazer algo para
o "por" indicar motivação
o "para" indica alvo
Assim você dorme tranquilo
Mesmo que o mundo seja ruim
quarta-feira, 20 de junho de 2018
Chamas.
Hipnotizado pelo fogo
Digo que logo vou mas continuo
Você diz que me ama
E eu não escuto
A fumaça torna meu olho turvo
Enquanto vejo tudo queimar
Minha obra de arte em cinza
Pintada em paredes brancas
Caminho em direção a cama
Pra dormir sem precisar acordar
O despertador derrete em sonhos
A fronha do travesseiro acende
Paro o tempo por um segundo
Solto a mão de quem me prende
Caio num abismo escuro
A queda não parece ter fim
Não sinto mais o calor de fora
Muito menos o que havia em mim
quinta-feira, 14 de junho de 2018
Encontro casual.
cercados de prateleiras
para dar de cara com você
revivo minhas dores
em plena segunda feira
sem saber o que fazer
o sorriso sem graça
de quem não esperava
lidar com isso a essa hora
da manhã
e torcendo pra que amanhã
pelo menos o destino tenha pena
me fazendo virar em outra esquina
e evite essa constrangedora cena
terça-feira, 12 de junho de 2018
Carta.
E me perguntei como não percebi
Que as coisas já tinham desandado
Acidente causado por um trem descarrilhado
Já tinha passado tem tempo
O limite do bom senso
Do que faz bem, do amor imenso
Era natural que acabasse
Só eu mesmo que não percebii
Porque eu pensei que quando acabasse
Eu não iria estar aqui
Mas hoje que não dói mais
Vejo que não tinha o que fazer
Porque quando um não quer
Já acabou.
Sobra só sofrer e esperar que passe logo.
Joga as cartas no fogo,
E no lixo as fotos.
Mas hoje não dói mais, hoje não dói.
segunda-feira, 4 de junho de 2018
O que eu sou.
Meus quadros na parede
Eu era minhas canecas
Os versos citados
E as imagens na pele
Eu era a referência ao filme
Ao livro, eu era tudo que me marcava
Eu era fácil de ler
E fácil de agradar.
Me identificava com tudo que ressoava em mim.
Mas aí deixei de ser nós
E aos poucos fui deixando de ser tudo
Até sobrar só o que eu sou
Meus atos e minha presença física
É só o que posso oferecer
Eu não me identifico mais
Perdão a quem se via em mim
Mas tirando tudo o que eu já fui
Só sobra o que realmente sou
segunda-feira, 28 de maio de 2018
Tudo que eu perdi.
Não reconheço mais as ruas
Os rolês, os espaços,
E tudo que eu faço me distancia mais
Eu perdi minha casa
Não meus móveis ou minhas paredes
Mas o sentimento de lar
Como um lugar que te traz paz
Perdi minha família,
pra distância física e moral.
Fui perdendo os almoços de domingo
até o Natal não fazer mais sentido.
Perdi meus amores
Até não acreditar mais nisso.
O amor é um acordo de concessão
Que me foi tomado à força
Perdi meu trabalho,
Que é como perder o emprego mas com outro sentimento
Horas perdidas sem propósito
Minha cadeira é um depósito abandonado de talento
Perdi a esperança
De achar o que só fez sentido naquele momento
Porque ter controle é uma ilusão
Meu maior erro foi achar ter poder de decisão
E fui perdendo aos poucos
Cada parte de mim
Que habitava esses lugares,
Até me perder por completo.
Então fui obrigado a me achar
Em tudo que eu ainda tinha
Encontrar o que de mim estava acima
Disso tudo.
Se tiram o que te define, o que sobra de você?
O que eu perdi dificilmente vou encontrar,
Mas de vez em quando encontro partes novas aí.
Ainda não me sinto completo, nem sei se um dia vou sentir.
Mas talvez ser completo nem era um objetivo tão bom assim.
sexta-feira, 11 de maio de 2018
Caminhos.
Que não tinha doido tanto, sabe?
Que você tinha superado também
E que agora, caso o mundo desabe
Eu não vou ficar pensando no que seria
Se um dia, fosse diferente, entende?
Caso a gente não tivesse se encontrado
Ou nosso caminho tivesse se separado
Antes de estarmos tão distantes.
Porque não reconheço o caminho a minha frente
E o que ficou pra trás também não me diz tanto
E que se a gente chegou aqui junto
Ainda falta muito pra eu entender
Qual o destino que me espera.
Mas não fico parado,
Cada vez e cada passo,
Em busca de entender pra onde vou
O que eu sou e quem eu era.
quarta-feira, 9 de maio de 2018
Peixes.
At the botton of the ocean, fish won't judge you by your faults.
quinta-feira, 3 de maio de 2018
Calmaria.
pois o que poderia lhe tornar dispensável
acaba sendo justamente o que nos liga.
Quando não se precisa estar com alguém
Só a vontade prevalece
E enquanto o desejo existir, ela permanece
Enquanto fizer sentido, enquanto sentir que faz
A gente permanece junto, sem perturbar nenhuma paz
Pois é a calmaria que me atrai, não necessariamente a estabilidade
Pois nessa idade no mar, qualquer onda forte a gente cai
Então fico e peço que fique também
Porque o que não está fazendo mal
tem sido muito melhor do que o que não estava fazendo bem.
quarta-feira, 25 de abril de 2018
Sem alarmes.
I'm on the mend. At least now I can say that I'm trying. Hope you will forget things I still lack.
sexta-feira, 13 de abril de 2018
Ícaro.
Vejo você dar um passo a frente e dizer não
Porque apesar de nascer sem asa,
Não se sentir em casa nesse mundo é a danação.
Por isso quer tanto voar, em direção a luz como Ícaro fez,
Pra poder sentir a queda eminente a cada bater de asa
Se aproximando da brasa que queima no céu e rindo dos próprios clichês
Enquanto cai, você me vê parado, ao longe observando seu feito
Eu aceito que era esse mesmo seu jeito
De não se contentar com o que não é perfeito
Achar defeito em tudo que seu Deus lhe deu.
Agora voa de encontro a ele, pronto pra confessar seus pecados
Como se o que fez te errado tivesse te levado até ali.
Mas tudo é escolha, e você escolheu cair.
Não era minha mão que ia te impedir.
E quando caído, te lembrarem como rei,
Eu vou ter a consciência de que eu tentei.
quarta-feira, 4 de abril de 2018
Poder.
O poder é uma rosa pequena, frágil e de cristal
E mesmo que sua mão pesada bata forte
Ainda precisa da validação do outro pra ser real
Mas qual o sentido de se sobrepor
Se o sobreposto precisa permitir
Será se os homens pedem pras formigas
"É ok se eu pisar aqui?"
E mesmo um deus todo poderoso
não perde tempo perdindo permissão
Aos humanos cheios de falhas
Que se humilham e imploram perdão
Mas o poder quando enfrentado,
Se a cabeça do outro não abaixa,
Ele se ofende como menino mimado
Que recolhe os brinquedos em sua caixa.
"Quem é você que não me reconhece,
não vês que sou todo-poderoso?"
Se fosse realmente quem você parece
Não estava discutindo como ouso
Apenas me puniria sem dizer porquê
Usando do que você tanto diz ter:
Poder.
sábado, 24 de março de 2018
Órbita.
sexta-feira, 16 de março de 2018
O que morreu de mim.
e, como se tivesse no meio,
senti meu sangue descer.
E o vermelho turvou minha vista
como uma lista borrada de coisas a fazer.
A esperança, se é que exista,
mesmo que dista, também foi morrer.
Porque se o caminho seguido
não foi garantido de destino chegado,
Faz diferença onde sigo,
me perco, amigo, ou se espero sentado?
Meu próximo passo é desconhecido,
Se vai melhorar, eu não confio,
Mas entendo agora o que aconteceu comigo.
Porque quando morrem pelo que eu acredito,
Fingir não ouvir o grito não é uma opção.
sexta-feira, 9 de março de 2018
Precipício.
Dizem que quando você olha o precipício, ele olha de volta para você, mas eu tinha certeza que ninguém me olhava naquele momento. Andei por quilômetros e caminhos improváveis para me ver o mais sozinho que eu pudesse estar. Meu grito ecoaria pelas montanhas mais próximas mas não chegaria aos ouvidos de nenhum ser humano que pudesse me impedir. Pelo caminho eu repassei todas minhas decisões que me trouxeram até aqui. Todos os tropeços e injustiças que me fizeram aos poucos perder a fé não só na humanidade como no meu próprio futuro. Viver em sociedade não me recompensava mais, o trabalho, a família, os amigos, eu era apenas um enfeito empoeirado em um móvel próximo a televisão. E foi quando percebi que eu não tinha um futuro brilhante pela frente que comecei minha caminhada. Aos poucos parei ir atrás das pessoas, com o tempo elas pararam de insistir também. Em outra cidade, minha família mal acompanhava meus passos e no meu trabalho demoraram alguns dias pra perceber que eu nem ao menos estava lá. E foi caminhando até aqui, no frio da noite e no suor da tarde, que pude entender melhor o quão pequeno eu e minhas ações somos. Deixar de lado o ideal de mudar o mundo ou de fazer as pessoas mais felizes. Separar o lixo foi em vão, assim como ajudar senhoras a atravessar a rua e me manifestar quando presenciei injustiças. Enquanto me arranhava entre arbustos e me protegia da chuva em copa de árvores gigantes, minhas preocupações foram diminuindo e com ela também minha dor. A dor de ter machucado tanta gente, de ter me machucado tanto, me culpado e conscientemente errado tanto. Por tentar corrigir meus erros tarde demais. Não ter sido forte ou insistido pra que as pessoas não fossem embora. Continuei por alguns dias, confesso que em algum momento eu perdi a conta, mas foi só quando achei onde subir e comeci a sentir o ar se tornando cada vez mais rarefeito em meu pulmão, o corpo pesado e desacostumado, que senti o peso da minha decisão. As inseguranças voltaram, o sentimendo de covardia de ter deixado tudo para trás foi crescendo com força. Agora, dando mais um passo em direção ao precipício, minhas preocupações somem novamente. Tira o óculos como em um movimento simbólico de negação da sociedade. Tiro também meu cinto e meus sapatos. Abro os botões de minha camisa e começo a sentir o vento bater em meu peito. Abro os braços naturalmente, e penso como quem está vendo de fora deve estar me achando ridículo. Me posiciono mais a frente, meus pés já fora da borda. Respiro fundo para dar meu próximo e último passo. Chegou a hora. Antes que eu pudesse me despedir de mim mesmo, perco o equilíbrio, tento me lembrar do que eu estava fazendo por um último instante. Então percebo que estou voando.
sexta-feira, 2 de março de 2018
Destino.
Estou parado há uma semana tentando escolher o caminho.
Os dois lados tem rosas, os dois lados tem espinhos.
De um lado tem impulso, do outro lado estou sozinho.
Mas desse lado me sufoca, daquele eu respiro.
Os dois lados terminam muito próximo do meu destino
Mas preciso decidir urgente qual estrada que eu sigo.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Passeio.
O Sol tinha se escondido pra não incomodar nosso passeio, e enquanto a gente andava eu pensava o tanto que o céu nublado combinava com seu rosto, equilibrando luz e sombra de maneira a valorizar cada detalhe. Eu me espantava como com você tudo parece o videoclipe de uma banda indie. Desde a maneira como prendia o cabelo enquanto tomava café de manhã até a maneira como se encolhia no sofá, puxando a coberta para si, nas cenas de tensão do seu seriado preferido. E eu ali, de observador onisciente de um espétaculo que não era pra mim, era pro mundo. O passeio continuava e você parava para olhar de perto uma flor que crescia no tronco de uma árvore. Seu encantamento não conhecia limites, até os girassóis se inclinavam um pouco na sua direção quando você passava. Nas conversas era sempre o centro das atenções, entre amigos, familiares e até quando éramos só nós dois parecia que eu não me importava muito em apenas observar você falando sobre suas paixões. Achei que com o tempo eu me acostumaria, mas anos se passaram e eu ainda me distraia no movimento da sua boca, no toque da sua mão sobre a minha, no seu cheiro. Você era tão completa e cheia de si, que mesmo minhas falhas e ausências não pareciam incomodar. Eu somava com o que eu podia em uma pessoa que parecia transbordar em tudo que alguém gostaria de ser. Eu tentava só absorver o que você tinha para me ensinar, observar pra ser melhor. A delicadeza de cada ação, a intenção pura de quem só quer fazer o bem mesmo que ganhando nada em troca. Mas o que poderiam te oferecer que você não tinha? O que eu poderia te oferecer que você não tinha? Você resolveu parar no parque, estendeu uma toalha no gramado e me chamou para sentar. Aproveitei a grama recém molhada e me deitei no seu colo. Você enxergava desenhos nas nuvens enquanto eu, distraído, só estava feliz de estar ali. Fechei os olhos pra concentrar nos seus dedos que deslizavam em meus cabelos. Pensei naqueles que trocariam tudo para estar no meu lugar, sentir seu abraço e enxugar suas lágrimas nos dias difíceis. Ali eu me percebi feliz, como nunca tinha sentido antes. Não queria estar em nenhum outro lugar. Feliz como quando te vi pela primeira vez e entendi que você tinha me escolhido. Como quando você me convidou pra sua cama e eu entendi que ali que eu queria dormir pelo resto da minha vida. Feliz quanto quando você me apresentou pra sua família e eu entendi que em breve ela seria minha família também. E então abri os olhos, percebi que você também estava feliz. Lambi sua mão, e empurrei ela com a cabeça pra eu me aconchegar novamente. Você soltou minha coleira pra que eu pudesse correr por aí mas não tinha nada naquele parque que me interessava mais do que você.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Ausência.
Hoje de manhã, sua ausência não foi notada.
No espaço vazio da cama tinha uma almofada.
Nos minutos de acordar, uma planta foi regada.
Não tropecei nas suas roupas espalhadas.
Na mesa do café, não sobrou outra torrada.
A luz do Sol entrou por onde a toalha era pendurada.
Eu mesmo dei um novo nó na minha gravata.
Lembrei de conferir se a janela tá fechada.
A cópia que eu te dei, a fechadura foi trocada.
O porteiro não estranhou quando saí pela escada.
Elogiou minha postura e minha barba penteada.
Na caixa de correios, nenhuma carta endereçada.
O cinto do meu carro não deixa mais você marcada.
Nem desvio meu caminho pra deixar você em casa.
Ou espero sua resposta das mensagens visualizadas.
Não combino o almoço: saladinha ou feijoada?
Depois do trampo não me liga pra dizer que está atrasada
Alguém da faculdade te passou a sala errada.
Que o estágio não engrena, esse semestre está ferrada.
Que só queria estar dormindo ou vendo tv de madrugada.
Chego em casa, no fim do dia, esqueci a luz ligada.
A louça se acumula, a geladeira está estragada.
O chuveiro não esquenta, nenhuma roupa está passada.
O peso no meu corpo atinge uma tonelada.
A vontade de continuar se perde em meio a jornada.
Deito só mais uma vez, com a cara já molhada.
Torcendo que amanhã, a ausência não seja notada.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Desconforto.
Then ask me what it's like to have myself so figured out. I wish I knew.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
Expectativa.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Beleza.
Não tem idade, não tem cor
A beleza transpassa os limites da cidade
E significa mais que as intenções do autor
Das tribos originais aos homens de terno
Do Egito Antigo a Nova Babilônia
Das colônias em marte ao Homem Eterno
Sempre haverá espaço para o que é belo
A fluidez do traço que hipnotiza
A brisa nos cabelos e o calor do abraço
Um quadro na parede sem significado aparente
Que acalma o coração de quem pousa os olhos
A montanha além do mar que inspira os poetas
Certas manhãs que se equilibram na cor certa
Perto de tudo o que há em desarmonia
E o que se perde em decomposição
Quando sobrarem só restos de civilização
Olhe pra trás e lembre, é a beleza que fica.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Bússola.
Quando a bússola parou de funcionar, comecei a seguir as estrelas. Mesmo com o vento contra, consegui chegar mais longe do que imaginei. Aprendi a me guiar olhando para o céu e assim foi minha vida inteira, sentia pena de quem dependia de instrumentos tão ultrapassados para indicar a direção. Minha orientação vinha do além-tempo, de pontos luminosos que nem existem mais mas marcaram os céus com sua presença e vão continuar marcando por anos-luz depois de mim. Mas um dia acordei com o céu nublado, sem infinito em nenhuma direção. Acordei perdido e cansado, me perguntando a quanto tempo estou na contra-mão. Procurei meus velho referenciais, não encontrei ou não soube usá-los. Olhava inutilmente pra cima como se por dó as nuvens se abrissem pra mim, não aconteceu. Escolhi ao acaso um caminho a seguir, torcendo para que não fosse o pior e ali fui enquanto as estrelas não voltassem. Caminhei por dias, meses, anos, sem chegar a lugar algum. O tempo continuava fechado e meu tempo acabava-se aos poucos. Objetivos, sonhos, metas, tudo que era tão claro foi ficando para trás no caminho enquanto eu esquecia como me guiar e minhas pernas perdiam força a cada passo. Até que, chão. A falta de referencial me atinge como pedra e desisto. O sangue escorrendo esquenta meus dedos e enquanto eu perco a consciência de costas no chão, vejo ele novamente no céu. O Cruzeiro do Sul.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Períodos.
Gosto de cigarro, taça de vinho
Entro no carro, coloco o cinto
Guiando você pelo meu caminho
Sua coxa é quente, sinto e deslizo
Intenção pulsante, objetivo sombrio
Você cheira a álcool e suor frio
Então me provoca a cada sorriso
Puxa com força, seu beijo é um tiro
Me tira do sério, queima o pavio
Não me aguento, paro no meio fio.
Te coloco no colo, 'cê pede, eu tiro,
Nossos corpos se encostam, embaça o vidro
Momento de êxtase, em pensamento anuncio:
Menos uma noite sozinho.
O interfone toca, o porteiro anuncia
Te recebo na porta, "você está linda"
Você me pergunta se pedi comida
Que tem pouco tempo, está de saída
Só veio me ver, bagunçar minha vida
Os copos e pratos acumulam na pia
Me joga no sofá, você vem por cima
Sua bolsa no chão, seu celular vibra
A gente ignora, seu chefe te liga
O suor se mistura, o ritmo sincroniza
Os corpos contraem em perfeita sintonia
Você se levanta, recolhe sua calcinha
Com um beijo no rosto sinaliza a saída.
Mais uma tarde sozinha.
Observo seu rosto, respiração lenta
Você sonha com algo, expressão serena
Vira de lado, numa ação desatenta
Te abraço apertado, me desorienta
Me abraça de volta, quase por pena
Sol invade a janela, ilumina a cena
Fotografia perfeita, coisa de cinema
Apresentação única, você é o tema
Seus olhos se abrem, minha tensão aumenta
"Bom dia, bebê", ela diz sonolenta
"Volta a dormir, já cancelei sua agenda"
Outro sorriso, meu coração não aguenta
Minha mão desliza nas costas e desenha
Um dia como esse não precisa de legenda
Volto pra lugares que minha mente frequenta
Primeira manhã e o fim do poema.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Perdi a chave.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
O caminho para dentro é mais longo.
Mais coisas erradas eu encontro.
Sigo tonto, tropeçante, vacilando a todo instante.
Descobrindo tudo aquilo que insisto em reprimir.
Sumir não é o caminho,
Algumas jornadas precisamos fazer sozinho.
Mas por que é tão difícil enxergar o que está tão perto?
Certo que de tão próximo se escondeu
e o caminho para dentro é mais longo que o caminho pro céu.
Mas reprimo novamente, corpo sob mente,
Porque continua essa estrada emocional
Se não me forçar ao próximo passo
O próximo lugar que passo pode ser o final.
quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
Vende-se.
O rejunte, velho e moído pelo tempo, não segurou.
Cairam também as colunas, chão e teto.
De tudo que construímos, muito pouco que restou.
Entulhos jogados em terra batida,
Terreno baldio, infértil e sem cor.
Na placa de vende-se, anuncio a vida
Como em um vaso que não nasce mais flor.