Texto publicado originalmente na minha newsletter: https://guitosc.substack.com/
Há muito tempo venho ensaiando começar de novo. Voltar a escrever mais, produzir meus vídeos, meus eventos. Assim como muitos dos projetos que eu produzi, essas ideias existem por anos na minha cabeça enquanto eu cuidadosamente vou os construindo e esperando o momento perfeito para que elas comecem a existir.
Talvez por isso que nunca me incomodou ter mil projetos engavetados porque na minha cabeça eles estão sempre em desenvolvimento, mesmo que parados por anos. Um projeto só deixa de estar em desenvolvimento quanto ele se concretiza, nunca por abandono. Quem é mais próximo já deve ter ouvido da minha história em quadrinhos, um universo de super heróis que analisa a busca da identidade durante a adolescência, uma história “coming of age” que gerou até um spin off que se passa dez anos depois. Alguns até já viram artes-conceito que foram comissionadas em algum momento entre o começo da pandemia e o completo desespero da minha própria existência.
Projetos musicais, curtas metragens, game shows, zines, poesias, desenhos, performances, danças, stand up, quadrinhos, ensaios fotográficos. Tudo ali esperando o momento que elas deixarão de ser rascunhos num Google drive abandonado pra virar uma marca na minha vida, exposta com orgulho entre as outras coisas que conseguiram ver a luz do dia. Esse texto mesmo, enquanto o escrevo, ainda existe apenas em potência na possível newsletter que venho querendo lançar há meses pra me obrigar a voltar a publicar alguma coisa (qualquer coisa) semanalmente.
Quem lembra do podcast que lancei na pandemia? Eu mesmo gostaria de esquecer e morro de medo de voltar lá e presenciar novamente minha pública decadência mental enquanto tentava me agarrar a algum senso de comunidade. Algumas pessoas acompanhavam! Era diferente, inusitado, tinha música, reflexões, senso de humor. Está lá disponível ainda para quem for bom de investigações virtuais enquanto eu não descubro como apagar ele.
O amigo Príncipe Vidane tinha uma piada que um dia lançaria um livro chamado “Fiz tudo na internet menos sucesso” e sempre me identifiquei muito. Hoje, vendo ele fazendo sucesso nas internet, me lembro que o segredo é continuar fazendo realmente. Porque mesmo quando você não atinge milhares de pessoas, a sensação de anos depois ver alguém comentar sobre algo que você produziu e como aquilo marcou a vida da pessoa, é uma sensação maravilhosa.
Eu sempre tive muita dificuldade de fazer as coisas sozinho, mesmo sendo plenamente capaz e me faltando poucas habilidades pra realizar o que eu quero. Felizmente, nessa minha jornada de produção por diversas vezes encontrei pessoas que me inspiraram demais e outras que estiveram ao meu lado pra produzir coisas comigo. Mas o tempo passa, as prioridades mudam, as relações mudam e poucas pessoas estão interessadas em abrir mão de seu tempo livro no pouco que sobra de seus trabalhos pra tentar fazer coisas legais e criar arte por criar.
Mas quanto mais o tempo passa, mas eu vejo que meu lugar é esse mesmo e é isso que eu sei fazer. Ai cá estou eu, tentando entender como recomeçar a fazer as coisas. Sozinho (novamente?) planejando tudo na minha cabeça anos e anos procurando um pequeno empurrãozinho externo mas cada vez mais preocupado que (novamente?) sou eu mesmo que tenho que empurrar meu balanço.
E o que não é tudo isso além de uma grande metáfora pra minha volta pro Brasil, essa eterna busca de quem eu sou e como eu posso fazer do mundo a minha volta melhor? Eu não tenho a resposta, mas talvez eu esteja aqui convidando todos vocês a procurar comigo mais essa vez.
O que teremos semana que vem? Um review de filme? Uma receita? Uma reflexão sobre o inevitável apocalipse tecnológico alimentado por IA generativa? Uma dança de TikTok diretamente no seu e-mail?
Só o futuro dirá.